Transformar a Educação!

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Estamos Reinventando a Educação.

terça-feira, 2 de junho de 2015

EDUCAÇÃO: DE CABRAL AO ENEM!


Após várias analises, observações e estudos, levantei nove desafios que todo professor terá em sala de aula e fora dela. Sabendo que este desafio não é apenas do professor, mas de gestores escolares, pais de alunos, alunos e claro de toda sociedade, e afeta todos nós, uma vez que a educação é o pilar principal de uma sociedade.
Neste primeiro artigo de uma série de nove artigos, que no final será tudo junto para transformar esta série em um e-book, vamos traçar um paralelo histórico da educação desde os jesuítas, Marquês de Pombal, Paulo freire, e o Enem. Pontuaremos também momentos em que a educação deixou de ser foco do nosso governo para cumprir sua vontade e alcançar seus anseios como governante. Esta série começa, então pela estrutura escolar.
A estrutura escolar que temos hoje, é sem dúvida um enorme desafio para que a educação alcance seus objetivos de formar cidadãos de forma consistente.
Participo do pacto nacional de fortalecimento do ensino médio, programa do governo na formação de professores e educação continuada, a fim de melhorar e capacitar os professores para a realidade que vivemos no século XXI.
A grande questão é que sofremos um mal muito maior do que apenas um momento na educação nacional. Sofremos por causa de raízes históricas que enfrentamos desde a colonização.
No material do governo que é utilizado, logo em seu primeiro caderno se inicia com esta afirmação: "O ensino médio talvez seja o mais problematizado na história da educação.” Cury, 1991 afirma que “o nó da relação social implícita no ensino escolar nacional”. Por ai fica claro que o desafio da estrutura escolar e do ensino público geral está ainda sem uma solução clara, e fará com que os alunos inseridos sofram as consequências e além de uma geração que se forma, neste momento de crise não contribuirá de forma efetiva com a nação, sociedade familiares e por si mesmos.
Abaixo segue um pequeno resumo cronológico da história da educação desde a colonização, e em cada etapa pontuamos o que, em nosso ponto de vista trouxe de herança para o que temos nos dias de hoje. Este resumo foi extraído do portal Educar para Crescer, com o título Beabá do Brasil dos Jesuítas até o Enem.
1500: Vera Cruz: O começo de Tudo
Ao chegar ao país os portugueses perceberam que eram os índios mais velhos que orientavam os mais novos, e os pajés eram responsáveis pelos valores culturais.
1549: Alfabetização pela fé
Os primeiros jesuítas chegam ao país em missão civilizatória, para converter os índios ao catolicismo, a alfabetização é feita em casa. É construída pequenas Tápias anexadas às aldeias que são as primeiras escolas. Crianças e jovens aprendem português e espanhol, além de profissões básicas e operações como contar, é utilizado teatro, o canto e outras atividades lúdicas para catequizar.
1564: O primeiro colégio para brancos
A educação na colônia segue, embora mais cara, afinal tinham que bancar remédios e roupas para os índios. Sem recursos, os jesuítas assumem a educação dos brancos também, determinação da coroa portuguesa. Neste mesmo ano é criado na Bahia o primeiro colégio, mais estruturados do que o dos índios, recebe órfãos português e filhos da elite colonial, um ou outro índio consegue estudar ali, mas depende do esforço. Após 11 anos de estudos, era preciso estudar a universidade além mar, pois não havia ensino superior na colônia.
Observa já aqui, a segregação feita através da educação, a elitização o que prejudica e muito o desenvolvimento do indivíduo como pessoa e como ser social.
1577: Padre Anchieta e os livros escritos à pena
Em carta enviada para a corte portuguesa, o jesuíta mais ilustre, padre Anchieta relata sua dura rotina na preparação das lições, uma a uma, escritas à pena, reclama das poucas horas de sono, e das dificuldades dos alunos também.
1599: Faltam Professores
A pedagogia dos jesuítas é consolidada. O método utilizado era o da repetição, memorização, provas periódicas. Ao aluno cabe anotar tudo o que professor falava em um caderno. A falta de professores era um grande problema, pois a maioria vinha de Portugal, e como as viagens eram a navio, muitos morriam pelo caminho, e muitos até fugiam, outros desapareciam, pois algumas tribos indígenas eram antropófagas.
1759: A expulsão dos Jesuítas
O Marquês de Pombal, que comanda Portugal de 1750 a 1777, compra várias brigas para fortalecer seu governo absolutista. A maior delas foi com a Companhia de Jesus. Só no Brasil são 670 membros comandando as principais instituições educacionais, e cuidando da educação de milhares de índios. Em 1759, Pombal expulsa os jesuítas do império afim de reduzir a influência do grupo. Fica bem claro que a preocupação com a educação por causa de interesses políticos e afim de manter o poder, fica sempre em segundo, terceiro ou quarto plano. Não é diferente ao longo da nossa história, e até os dias de hoje.
1760: O Estado é responsável pela Educação
Após a expulsão dos jesuítas, a educação brasileira é organizada pelo Estado pela primeira vez. Os professores, concursados, são pagos pelo governo, que determina a proibição dos livros jesuítas, e já cobra impostos e faz leis. Um novo método de ensino é criado e a imprensa régia imprime os livros didáticos. Nas escolas, estudam os filhos de fazendeiros, Senhores de engenhos, farmacêuticos, militares e outras autoridades, como filhos do capitão-mor e do cirurgião-mor.
O objetivo da formação não é o ingresso na universidade. Aliás, não há escolas de ensino superior no país. Do total de estudantes apenas ¼ continuam os estudos, indo estudar no exterior. Os demais dedicavam ao serviço público, agricultura e a igreja.
Quero ressaltar mais uma vez, que fica claro que uma vez a educação assumida pelo estado, a mesma fica sob o controle, e se adequa aos objetivos do governo e não à sua função principal.
1824: Meninas Educadas em casa
A maioria das mulheres é educada pela mãe ou pela ama e aprende a ler e a fazer atividades domésticas. Moças quase nunca escrevem pelas mesmas razoes que os índios, uma vez que a escrita dependia de lápis ou pena, e já a leitura era ensinada de forma oral.
1827: Uma revolução na Escola
A primeira Lei Geral de Ensino cria colégios nas vilas e cidades mais populosas do império e dá acesso às meninas na sala de aula.
Um novo método de ensino e difundido, o ensino mutuo, no qual o professor orienta os melhores alunos (monitores), que repassam o conhecimento aos outros.
A repetição e a memorização, usadas desde os jesuítas continua, e neste mesmo ano surge as primeiras faculdades de ensino superior de Direito em São Paulo e Olinda.
1837: Uma Escola para Imperador ver
O colégio Pedro II, Concebido para ser um modelo para todo o Brasil, é inaugurado no Rio de Janeiro. Os alunos só poderiam ser homens, os professores eram contratados e controlados pelo próprio Imperador. Depois de 6 anos os alunos ingressam no curso de medicina, direito e engenharia.
1874: Ordem e Progresso
Ideias do positivismo, do cientificismo e do movimento republicano circulam e influenciam a educação. Escolas laicas e particulares são criadas, além de colégios femininos e protestantes. Aos poucos a educação migra para iniciativa privada.
1883: Escolas técnicas
No auge do desenvolvimento da lavoura cafeeira, outras escolas são criadas. O Liceu de Artes e Ofícios, por exemplo, nasce na capital paulista, momento em que a cidade estava se urbanizando, e o objetivo era qualificar trabalhadores para indústria até então.
1889: República dos Normais
Com a proclamação da república, o governo reforma o ensino primário e complementar. É nesse período também que aumenta a presença feminina nos cursos de formação de professores, já que o magistério surge como alternativa ao casamento forçado e a ofícios de menor prestígio.
Observe que a carreira do professor aqui já deixa de ser uma opção pela vocação ou pela atratividade da função e ou salário. Se torna uma rota de fuga, e isso compromete o resultado final, e do objetivo principal de um professor.
1895: O primeiro Jardim
A escola normal de São Paulo, que devia ser modelo de inovações didáticas, ganha o primeiro jardim de infância público do país. Antes disso, as crianças ficam em casa até sete anos.
1920: O aluno é o centro das atenções
Neste ano, ganha força a discussão sobre a importância da educação para o desenvolvimento do Brasil. Este movimento coincide com o surgimento da Escola Nova, movimento para reinventar a escola a partir da de conhecimentos produzidos pela psicologia e pela biologia.
Neste ponto decide que o aluno deve ser o sujeito mais importante da escola, e o conhecimento precisa ser mais atrativo para o aluno e mais próximo à realidade do mesmo.
Isso soa de forma magnifica aos ouvidos de qualquer professor centrado na formação humana. Mas, mesmo assim era algo mais no campo das ideias do que prático mesmo, mas já era uma grande evolução para a época.
1932: Anísio Teixeira e a Escola Nova
Anísio Teixeira e outros pensadores assinaram o manifesto da Escola Nova, que defendia a universalização da escola pública, laica e gratuita além de mudanças nas práticas e saberes pedagógicos, como a valorização das experiências da criança.
Tal documento surge como uma convocação de Getulio Vargas, aos profissionais de ensino. Anísio Teixeira foi pioneiro na implantação de escolas de todos os níveis e defende que elas sejam responsáveis pela promoção de cidadania e saúde.
Até aquele momento tudo estava muito lindo, esta promoção também era certa e com boa intenção, porém ao longo da história transferiu uma responsabilidade da família para as escolas e chegou em um certo momento que a escola, os professores não puderam absorver a responsabilidade de educar e ensinar sem a ajuda da família.
Outro ponto que precisa ser observado, é que com uma ampliação tão grande o processo pode ter sido rápido de mais, e a formação do professor e sua carreira ficaram em segundo plano. E foi neste ponto que muito se perdeu na educação, mesmo sabendo que o desejo de universalizar a educação pública era o que a nação precisava.
1942: Escola de trabalhadores
O país precisava substituir as importações, então se iniciou a instalação de indústria de base e com a fabricação crescente, foi necessário investir na qualificação de mão de obra específica, mas o país não tinha. Diante disso Gustavo Capanema, então Ministro da Educação e Saúde reformulou a a educação brasileira mais uma vez, dentre estas reformas criou-se o Serviço Nacional de Aprendizagem industrial, SENAI, com o objetivo de formar os trabalhadores para nova demanda nacional, a indústria pesada.
Quero ressaltar aqui, que não discutimos a importância dessa reforma, mas mais uma vez o acesso a tal formação fica limitada, mesmo com o país tendo uma demanda tão grande de mão de obra qualificada o acesso fica restrito mais uma vez.
1962: Ler para Entender o Mundo
Até aqui a educação evoluiu, mas não o suficiente. Fica claro que a maioria dos adultos não eram alfabetizados. E foi neste período que criaram o maior programa de alfabetização de adultos até então. O objetivo era que uma maior parte da população participasse da vida política e social do país. Tais ideais foram disseminadas por Paulo Freire, que recebe o convite do governo para idealizar o modelo para alfabetização de jovens e adultos no país.
1971: O fim da História e da Geografia
Mais uma vez, por causa de interesses políticos, a educação sofre grandes perdas.
Os movimentos em defesa da escola pública e da ampliação da educação são violentamente reprimidos pela ditatura militar, Paulo Freire é exilado em 1964.
Neste período é criado o vestibular com o objetivo de restringir o acesso à universidade. É ampliado de quatro para oito anos a obrigatoriedade escolar, tal medida aumenta o número de docentes, porém achata os salários, e causa um grave problema no longo prazo. Aqui, mais uma vez não é pensado o impacto na educação, o professor se vê desvalorizado, e muitos bons profissionais migram para outras áreas por causa da desvalorização.
O fato mais drástico, do ponto de vista educacional, e com o objetivo de formar uma geração que não pensa, a ditatura militar retirou as disciplinas de história e geografia, consideradas reflexivas. Ambas foram retiradas do currículo e substituídas por estudos sociais e educação moral e cívica, cujo o conteúdo era extraído de cartilhas elaboradas pelos militares. E neste período foi criado também o MOBRAL afim de erradicar o analfabetismo no país.
Os frutos das sementes lançadas neste período, colhemos até hoje. Dentro de sala de aula temos uma geração que não pensa por si, com grandes dificuldades de reflexão e de formar própria opinião. Isso está estampando na sociedade, na mão de obra pouco qualificada que temos, nos desmandos políticos que são aceitados pela maioria, e quase nunca é feito nada. E isso faz com nossa nação seja conduzida como temos assistido ai nos noticiários todos os dias.
1996: LDB
É promulgada a nova Lei de Diretrizes e Bases. É editado os parâmetros curriculares e implanta a educação infantil e creches como início da educação base.
1998: O Enem
O exame nacional do ensino médio é criado para avaliar os conceitos aprendidos, junto com o SAEB e a Prova Brasil.
A grande questão aqui neste ponto, é que boa parte dos alunos não estão e não são preparados para tais provas. Uma vez que, apesar do currículo ser igual, a educação diverge muito entre os estados e muito mais entre os municípios.
Isto se explica de várias formas, entre elas a baixa qualidade e atratividade da carreira do professor, que atrai um grupo de profissionais não vocacionados, e não atrai professores de ponta, os quais em, em sua maioria migram para ensino privado, ou até mesmo setor privado.
2004: Universidade para Todos PROUNI
O governo vincula a concessão de bolsas em faculdades e universidades ao desempenho do Enem, o que populariza o exame. A grande crítica feita aqui é justamente que deveria ser uma educação universal não? Acesso garantido à universidade federal a todos, mas o número de vagas não é suficiente e o vestibular é a forma de selecionar os mais bem preparados para o curso superior.
2007: A exclusão continua
O governo brasileiro lança o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que inclui um diagnóstico detalhado sobre ao ensino público. O resultado é que a exclusão da boa educação e de qualidade de ensino continua, e alcança, ainda, uma pequena parcela da população.

Nos dias de hoje, muito pouco mudou quanto a esta história que acabamos de resumir acima. Hoje em dia a estrutura escolar continua defasada. Os profissionais da educação não possuem uma carreira digna que os motive a se doar além do necessário. Uma boa maioria, arrisco dizer, que desistiu e que continua a lecionar por falta de opção de carreira. Uma outra parte estuda com objetivos e ingressar em outra carreira.
Ouvi um grande amigo dizer que a escola está ainda no século XIX, uma parte dos professores estão no século XX e a maioria dos alunos estão no século XXI, e não há pontes que ligam estes três agentes fundamental para a educação que sonhamos para nossos filhos, e para nossa sociedade.
Como professor fico sentido de poder fazer muito pouco para reverter esta história. Não pretendo sair da sala de aula, lá é meu lugar comum, espero que sonhos ali, sejam realizados e que formadores de opiniões sejam forjados pelas mãos dos educadores vocacionados a esta tarefa tão incrível que nos foi confiada.
Enfim, este é o primeiro desafio que o professor enfrentará em sala de aula e fora dela. Tem que lidar com uma herança complicada de idas e vindas da educação, além de enfrentar a falta de políticas que tratam a carreira do professor como uma carreira fundamental para nossa sociedade. Mesmo que digam que é a educação o caminho para a evolução, a carreira do professor ainda estará em segundo plano. Mas esta carreira é muito mais que carreira, é um chamado, uma vocação e tenho certeza que muitos não desistirão dela.

Eduardo Carolino
Professor, Consultor e Palestrante.





















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1 comentários:

Unknown disse...

O mundo moderno está exigindo um novo perfil profissional no mercado de trabalho, capaz não apenas de “fazer”, mas de “pensar” e “aprender” continuamente sobre aquilo que faz, e que tende a se generalizar em todas as esferas do setor produtivo. Mais do que nunca se difunde a consciência de que a educação, além de ser um investimento indispensável para a conquista da cidadania, é fundamental para formar o cidadão trabalhador, dando-lhe condições de enfrentar novos desafios colocados pelo atual sistema produtivo mundial. Cenário que, a cada dia, pela imaginação e realização do homem coincide com o próprio mundo e humanidade, e cujas exigências estão tornando as pessoas, qualquer que seja sua idade, novamente aprendizes. Em consequência, é imperativo hoje, oportunizar as pessoas um ambiente amistoso e instigador que as impulsionem enquanto indivíduo e participante do grupo, a explorar o espaço exterior, mas, sobretudo, o interior, como espaços de vida, através de um processo de educação contínua. Nesse novo contexto, o futuro trabalhador deixa de ser visto como um simples componente de custo, passando a ser um sujeito interferente na sociedade e uma fonte de conhecimento indispensável ao avanço e aperfeiçoamento dos processos produtivos. Esse enfoque nos leva a uma compreensão em que a formação do novo trabalhador é uma EXIGÊNCIA e uma TAREFA CONTÍNUA, que COMEÇA, MAS não se esgota na escola.